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Pois…realmente!

E assim regresso eu ao maravilhoso mundo da Internet. Só não sei muito bem o que escrever.

Sinto-me bem, obrigadinha, estou em casa. E isto de falar da minha vida muitas vezes é estranho. Nunca fui apologista de diários, dada a minha preguiça natural para a escrita, e por isso parece-me pouco natural este exercício.

Sim, eu sei que não é suposto falar “só” de mim, tranquilizem-se.

Posso falar-vos da Dina e da Helga: excelente companhia, as gémeas! Tranquilas, bem-humoradas, completamente seduzidas pelos meninos da casa (sim, já!) e aplicadas em tudo o que fazem. Umas damas à maneira que, claro, já partem corações aqui em Quelimane. E sabem cozinhar!

Recado a alguns companheiros da Ataca: vou pôr estes putos a gritar: “Ó Dina, raspa-me o coco!!!”

Posso também falar da Janine e da Sara, agora em Milange. A menina Janine chegou a África completamente apaixonada, em suspiros de ansiedade…e sei que está a adorar Milange. Aposto que os meninos de lá também…

A Sara, minha companheira de sonho este ano, continua tranquila como sempre, mas na sua curta estada em Quelimane já desassossegou algum coração por aí! A ver vamos…

Sei que está a fazer um bom trabalho em Milange mas tenho vontade de a ver cá, comigo. Até já, meninas!

Que mau, estou a cuscar na net! Pois…realmente, se escrevo, tenho que dizer alguma coisa, gente!

E sim, um pedacinho de mim. Há muito tempo deixei de andar de bicicleta, por razões várias que não vou enumerar (e denegrir a minha imagem!). Tenho a anunciar que voltei a gostar. Continuo a ficar louca de stress nas ruas animadas da cidade, quando tenho de ver o que eu faço e o que fazem os outros!Mas quando vou para os bairros, invade-me uma paz que raramente encontrei na vida. Enquanto sigo o Evaristo, sempre à frente e a indicar caminho, consigo finalmente abstrair-me de tudo e ver o que me rodeia: mamãs deitadas nas esteiras a brincar com os filhos, crianças que brincam e cantam, músicas que aparecem de um qualquer sítio, meninas que se penteiam, vento quente e suave nos coqueiros, cheiros a laranjeira e outros que não sei o nome.

Vejo também a pobreza e a falta de condições, a necessidade de ajudar…mas quem já passeou nos bairros compreende este tipo de beleza que descrevo, esta sorte de poder estar aqui e sentir-me assim.

Continuo a ter pouco tempo para o Chuabo, mas apetece-me sentar e ficar a ouvir estas palavras que não sei. Noutras alturas, ficaria em desespero por não entender. Aqui não, nem sei explicar porquê.

Gosto de chegar a casa das mamãs e ter sempre a cadeira para sentar, conversar sobre o menino que parece um anjo mas foge na hora do banho, ter tempo para rir e falar e sentir humanidade.

Ainda assim: acho que ainda estou em ritmo europeu, porque toda a gente me acha muito “fuli de pressa”. Tenho um ano…e esta é a frase que mais ouço!

Mas já não tenho um ano, amigos, quase dois meses passaram desde a minha chegada e tenho sempre a mesma sensação: cheguei há muito e ainda agora cheguei.

Bem, mais uma vez, um pouco de animação e notícias de extrema importância:

– O Maninho perguntou-me: um cego tem uma namorada e é traído. Um mudo vê. Como é que ele diz ao cego? (podem aproveitar para me ajudar, sim?)

– Há burrié aqui! Chama-se todoê e já encomendei à tia Guida porque nunca encontrei no mercado (preço: 5MT o lugar). Se conseguir antes de enviar o meu texto incluo uma foto.

– “Como o macaco gosta de banana”, do senhor José Cid, é o último êxito da Casa Esperança!

– Nunca tentem escamar um peixe pedra se são distraídos. Arma mortífera que já me atingiu várias vezes, esse animal.

– O Verão parece querer não entrar aqui: continua fresquinho à noite e ainda não senti que ia morrer de calor.

– Os abacaxis só ficam mais baratos em Outubro/Novembro. Para já, os grandes continuam a 40 MT.

– Hoje a lua está cheia e apareceu-nos no caminho, enorme, na volta do mercado. De pouco interesse, a informação, mas se tivessem visto…E não, não há foto que a minha máquina pifou. Imaginem a Paula sem máquina fotográfica!

Bem, realmente já chega de palermices!

Beijos a todos e saudades de Portugal em Moçambique!

Paula Coelho

Em Milange

Milange situa-se nas montanhas muito perto da fronteira com Malawi, tem uma paisagem muito bonita. Esta é uma localidade pequena, com as ruas quase todas em terra, casas pequenas em geral de blocos.

Estamos em Milange há uma semana e parece-nos que estamos já há muito mais tempo, a nossa adaptação foi rápida e já se sente o cansaço.
Damos explicações de todas as disciplinas (Português, Matemática, Inglês, Biologia, Química, Física, Geografia, História) a jovens entre os 14 e 23 anos, sendo no total 37. Eles encontram-se a frequentar o 8º, 9º, 10º ano e a Escola Agrária.
As maiores dificuldades são no Português, uma vez que a língua materna deles é o Chichewa.

São jovens muito aplicados nos estudos e procuram muita ajuda, para além disso a lida da casa e do campo é da responsabilidade deles. O dia começa cedo por volta das 4:45h e acaba às 21:30h.
A rotina é quebrada com jogos, debates, sessões de cinema e longas conversas principalmente sobre como é a vida em Portugal. Querem saber como é a nossa Associação, como são as pessoas, quantas pessoas são e como trabalhamos.

Nunca nos sentimos tão observadas, aqui as pessoas param, principalmente as crianças, para nos olhar e algumas apontam e riem-se como perdidas. As únicas pessoas brancas que vimos cá em Milange além de nós, são dois Freis e três irmãs da Igreja Católica e nem toda a gente é praticante.

O que nós estranhámos foi o tamanho das aranhas. A Janine tem aquele enorme medo delas. Enquanto foram só aquelas pequenas no canto da parede, não foi problema para ela, mas uma com pelo menos 15 centímetros, preta, peluda, olhos a reluzir já foi motivo para chamar a Sara para a matar. Mas até ela que, supostamente, não tinha medo de aranhas, demorou digamos que bastante tempo para a eliminar.
Estamos a adorar tudo…
Obrigada Ataca pela oportunidade que nos estás a dar!!
Milange, 14-09-08 Sara e Janine